Tomar a vacina mudou tudo – já na volta, na estrada, tinha mudado. A cada curva eu torcia por um horizonte mais longe, torcia por uma paisagem mais aberta, torcia pra não ter caminhões nem prédios nem mesmo montanhas próximas. Queria ver longe, longo, queria ver à distância. Tomar a vacina me deu fome de quilômetros.
Me deu coragem, aberturas, tirou a casca, me deu pele porosa. Eu saí de uma toca onde eu nem sabia que ainda estava.
Eu tive efeitos da vacina – eu tive calafrio, eu suei frio, passei o dia seguinte encapsuladinha, sentindo frio, agasalhada, trabalhando no sofá enquanto olhava essas aves desproporcionalmente grandes que existem em Brasília, quase uma águia, um falcão, sei lá, voando lá em cima, voando devagar lá no alto.
Depois do almoço deitei no sofá e fiquei sentindo dentro de mim a maravilhosa guerra inoculada pela vacina. Meu corpo quente, doendo um pouco, meu braço doendo. Minha cabeça doendo um pouco.
A terceira guerra mundial acontecendo dentro das minhas veias, debaixo da minha pele. Acordos internacionais, o SUS, o governo Bolsonaro, pesquisa feita na Europa, pesquisa feita pela Fiocruz, a perplexidade do mundo no ano passado – tudo físico, materializado aqui dentro de mim agora em um movimento doido de células em guerra umas com as outras, uma guerra calculada que meu corpo vai vencer, a guerra boa da ciência. Mas ainda assim uma guerra, que aquece meu corpo, me dá calafrios e coragem.
Sou fã de vacinas. Ir atrás delas, sobretudo nas campanhas de imunização, me dá a sensação de cidadania. Um direito universal conquistado, portanto, usufruído. Para o bem individual, mas sobretudo coletivo.
E eu vejo beleza nos efeitos colaterais das vacinas.
Viva, Carol. <3
Parabéns Carol. Essa é da Pfizer? Tem segunda dose? Eu tomei a Coronavac mas não baixei a guarda ainda. Estou de máscaras álcool gel mas a vacina já dá uma certa segurança De toda forma é muito bom Bjs
Que bom que vc vacinou!
Bom saber notícias boas.